coletando a literatura-jóia da capital. "a cultura pop nos ensina a viver".

Arquivo Ganso Gracioso

TEXTOS ABRINDO FOGO METENDO NO CU DO MOMBOJO (SEM CUSPE). DO BLOG DO GANSO GRACIOSO.

ANO: 2006

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E aí Salomão?
Salomão diria que não há nada de novo debaixo do Sol. Que a vanguarda se esgota na sua apresentação e, muito embora eles insistam que não querem ser vanguarda, continua tentando ser.

O problema é que ninguém nunca vai ouvir esses garotos pseudo-sofisticados. Não adianta forçar a barra, não adianta tentar, a massa nunca vai cantar os refrões do Mombojó. Nem a massa nem ninguém que não seja conhecido de um conhecido dos integrantes.
Desistam rapazes do Mombojó, o pistolão por si só não é suficiente. Não adianta o Jornal do Commercio e o Diário de Pernambuco encher de notinhas sobre o Mombojó, não adianta tentar, os próprios intelectuais só compram o disco por educação - quando estão na frente de algum parente dos integrantes do Mombojó.
É uma triste realidade, a incerteza não permite que os peixinhos sejam salvos.
E aí Salomão?

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O Livro de Eclesiastes
Os rapazes do Mombojó se esforçam bastante para apresentar coisas sofisticadas esquecendo o livro de Eclesiastes: "Não há nada de novo debaixo do sol". Salomão foi esquecido por esses cristãos pernambucanos que insistem em criticar o que é clichê sem saber que, querer não sê-lo é a maior forma de ser.

De fato, a busca por uma estética "iluminada" é a grande angústia de grande parte dos músicos, atores, escritores, e vendedores de poupa-ganha, da cidade do Recife.
As linhas harmônicas das composições são as mesmas de grupos da nova safra da Inglaterra: Travis, Coldplay, The Hives, Artic Monkeys. Ou mesmo a nova safra americana: She Wants Revenge, Radio 4, Interpol, The Killers. A grande diferença é que a ornamentação é repleta de pínfanos desconexos da educação aburguesada desses mesmos garotos.
Mas ainda é bom quando tentam imitar os grupos acima explicitados, o trash mesmo, é quando lembram do que ouviam na adolescência: Silverchair, Metallica, Nirvana, Pearl Jam, Blur, Oasis, The Verve, e mais uma tulha de nomes correlatos. São as mesmas linhas melodicas as mesmas sequencias harmônicas ornamentadas por instrumentos pseudo-regionais.

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O que diabos a banda Mombojó tem em comum com a seleção brasileira? Tentarei explicar. Primeiro ponto é que o Mombojó canta e compõe mal - mas não tocam mal. A selação brasileira também joga mal, mas não toca muito bem, por sinal, foi só isto que fizeram no último jogo: tocar a bola de forma ordinária. Mombojó também, toca de forma ordinária.

Todos sabiam que a selação estava um fiasco. Todos sabiam que aquele time medíocre iria perder, porém, ninguém pode tirar Emerson porque ele é casado com a filha de Ricardo Teixeira. Ninguém pode tirar Roberto Carlos e Cafu porque são muito bem apadrinhados, e Galvão Bueno não pode falar mal de Ronaldo porque ele financia o filho deste nobre locutor da televisão brasileira.O pistolão, a indicação, a peixada, foi tão grande, que Ronaldo nem se preocupou em entrar no campo com 10 kg a mais. Ou seja, oficializou o pistolão de forma planetária. Agora o mundo sabe que todos os brasileiros vivem para e pelo pistolão. Era impossível não saber da existência do Mombojó, a não ser que o sujeito evitasse todo tipo de jornal.

Todos os dias notinhas sobre o Mombojó circulavam pelos principais jornais de Recife. Os seus integrantes são todos bem relacionados, amigos, parentes, da impressa em geral. Perdoe-me se eu estiver enganado, posso mesmo estar, porém, já ouvi dizer que seu primeiro disco foi gravado com financiamento do governo. É triste porque ninguém mais vai ver um bom músico ser anunciado. Os bons jogadores vão ter que esperar o peixe morrer. Os artistas plásticos pintam qualquer coisa e mostram aos seus amigos donos de galerias. As livrarias se proliferam de livros inúteis publicados por editores amigos de escritores. Os físicos bons fogem para o exterior ou vão fazer concurso público para funções que nada tem a ver com as suas.

O que está havendo afinal? Ninguém percebe o caos? Marcel Mauss, que ironicamente era sobrinho de Emile Durkheim, dizia que os "presentes" circulam na sociedade com o intuito de criar laços - acho que ele esqueceu que sua posição já é um presente de Durkheim. De fato, fazemos favores esperando algo em troca - mesmo que Lao Tse peça para que façamos ao contrário. Mas fazemos favores apenas a amigos. Prestem atenção...Eu entenderia dois camaradas de batalha (Chê e Fidel seria um bom exemplo) acobertar o outro pela amizade, porém, o que vemos no congresso, não é pela amizade, é pela simples banalização da dádiva, da troca. Lula não era camarada de Dirceu, e eu pergunto: por que acobertá-lo daquele jeito? A política também é enfim minada pelo pistolão. Lembro que os VJs da MTV eram: Astrid, Cazè, Massari, Edgar, Soninha, e Kid Vinil. Eram pessoas competentes, elas entendiam de música. Massari era um verdadeiro pesquisador! E Kid Vinil nem se fala. Os que não eram bons conhecedores eram rostos bonitos: Edgar e Sabrina. Hoje ligamos a MTV e os VJs nem sabem falar, nem entendem de música, e têm uma beleza comum - alguns nem belos são. O que está acontecendo? Como aqueles VJs foram parar por lá? O brasileiro reclama da corrupção e não percebe que ela é fomentada por uma noção falsa de amizade. Protegemos nossos amigos sim, mas esses, não são aqueles que te deixaram algum dia viajar de graça ou que te fizeram um empréstimo. Amigo é uma coisa mais intensa! Não há razão para proteger os que não merecem serem protegidos. Peço que ao término da leitura - se é que alguém vai ler esse texto - ouçam o novo e fabuloso disco do Mombojó: homem-espuma.

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A Cena Invisível de Recife
Não sei como devem se sentir os músicos das bandas locais de Recife. Talvez, da mesma forma que Sísifo, realizando uma tarefa da inutilidade.


Recentemente saiu uma matéria enorme na Continente sobre Le Bustier En Decadence, Mombojó, Profiterólis, Barbies, e outros nomes da inutilidade musical. O que essas bandas não entendem é que absolutamente ninguém em Recife as escuta. Nunca vi Mombojó tocar em lugar nenhum - a não ser em eventos de cunho altamente institucional, onde o apadrinhamento vale tudo.

A sonoridade de todas elas é péssima. Antes os músicos eram escolhidos em festivais, o sujeito, no mínimo, deveria tocar bem seu instrumento. Hoje não, tudo é indicação. Direção de cinema é indicação, jornalismo é indicação, teatro é indicação, estamos num mundo de predestinados.

O irônico é que por mais que os jornalistas da cena local tentem impulsionar esses nomes incompetentes, nada acontece. Eles insistem em enfiar guela abaixo os vocais terríveis do Mombojó. As letras pueris de quem utiliza o minimalismo para desculpar a incompetência. Mas não adianta, nada acontece.

Perguntem a qualquer recifense: cante um refrão do Mombojó. Não adianta, não pega. Todos os dias sai no jornal alguma notinha sobre esses grupos, mas não tem jeito.

Será que foi preciso esse mesmo esforço para levantar Chico Science? Creio que não. Será que Sísifo teve que empurrar aquela pedra tantas vezes ladeira abaixo para levantar o Chico Science? Será que Lenine foi tão forçado assim?

A cena atual de Recife não é pós-mangue, é invísivel - igual as cidades imaginárias de Ítalo Calvino. Ninguém vê NADA! E não é aquele Nada de Émile Cioran, tampouco o Nada construtivo de Bachelard, ou aquele que preenche o ser de Sartre. É um NADA que fede a lixo e incompetência.

Pelo amor de Deus, arrumem bons vocalistas e bons compositores.





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