Texto-estuário Recifense

coletando a literatura-jóia da capital. "a cultura pop nos ensina a viver".

Arquivo Ganso Gracioso

TEXTOS ABRINDO FOGO METENDO NO CU DO MOMBOJO (SEM CUSPE). DO BLOG DO GANSO GRACIOSO.

ANO: 2006

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E aí Salomão?
Salomão diria que não há nada de novo debaixo do Sol. Que a vanguarda se esgota na sua apresentação e, muito embora eles insistam que não querem ser vanguarda, continua tentando ser.

O problema é que ninguém nunca vai ouvir esses garotos pseudo-sofisticados. Não adianta forçar a barra, não adianta tentar, a massa nunca vai cantar os refrões do Mombojó. Nem a massa nem ninguém que não seja conhecido de um conhecido dos integrantes.
Desistam rapazes do Mombojó, o pistolão por si só não é suficiente. Não adianta o Jornal do Commercio e o Diário de Pernambuco encher de notinhas sobre o Mombojó, não adianta tentar, os próprios intelectuais só compram o disco por educação - quando estão na frente de algum parente dos integrantes do Mombojó.
É uma triste realidade, a incerteza não permite que os peixinhos sejam salvos.
E aí Salomão?

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O Livro de Eclesiastes
Os rapazes do Mombojó se esforçam bastante para apresentar coisas sofisticadas esquecendo o livro de Eclesiastes: "Não há nada de novo debaixo do sol". Salomão foi esquecido por esses cristãos pernambucanos que insistem em criticar o que é clichê sem saber que, querer não sê-lo é a maior forma de ser.

De fato, a busca por uma estética "iluminada" é a grande angústia de grande parte dos músicos, atores, escritores, e vendedores de poupa-ganha, da cidade do Recife.
As linhas harmônicas das composições são as mesmas de grupos da nova safra da Inglaterra: Travis, Coldplay, The Hives, Artic Monkeys. Ou mesmo a nova safra americana: She Wants Revenge, Radio 4, Interpol, The Killers. A grande diferença é que a ornamentação é repleta de pínfanos desconexos da educação aburguesada desses mesmos garotos.
Mas ainda é bom quando tentam imitar os grupos acima explicitados, o trash mesmo, é quando lembram do que ouviam na adolescência: Silverchair, Metallica, Nirvana, Pearl Jam, Blur, Oasis, The Verve, e mais uma tulha de nomes correlatos. São as mesmas linhas melodicas as mesmas sequencias harmônicas ornamentadas por instrumentos pseudo-regionais.

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O que diabos a banda Mombojó tem em comum com a seleção brasileira? Tentarei explicar. Primeiro ponto é que o Mombojó canta e compõe mal - mas não tocam mal. A selação brasileira também joga mal, mas não toca muito bem, por sinal, foi só isto que fizeram no último jogo: tocar a bola de forma ordinária. Mombojó também, toca de forma ordinária.

Todos sabiam que a selação estava um fiasco. Todos sabiam que aquele time medíocre iria perder, porém, ninguém pode tirar Emerson porque ele é casado com a filha de Ricardo Teixeira. Ninguém pode tirar Roberto Carlos e Cafu porque são muito bem apadrinhados, e Galvão Bueno não pode falar mal de Ronaldo porque ele financia o filho deste nobre locutor da televisão brasileira.O pistolão, a indicação, a peixada, foi tão grande, que Ronaldo nem se preocupou em entrar no campo com 10 kg a mais. Ou seja, oficializou o pistolão de forma planetária. Agora o mundo sabe que todos os brasileiros vivem para e pelo pistolão. Era impossível não saber da existência do Mombojó, a não ser que o sujeito evitasse todo tipo de jornal.

Todos os dias notinhas sobre o Mombojó circulavam pelos principais jornais de Recife. Os seus integrantes são todos bem relacionados, amigos, parentes, da impressa em geral. Perdoe-me se eu estiver enganado, posso mesmo estar, porém, já ouvi dizer que seu primeiro disco foi gravado com financiamento do governo. É triste porque ninguém mais vai ver um bom músico ser anunciado. Os bons jogadores vão ter que esperar o peixe morrer. Os artistas plásticos pintam qualquer coisa e mostram aos seus amigos donos de galerias. As livrarias se proliferam de livros inúteis publicados por editores amigos de escritores. Os físicos bons fogem para o exterior ou vão fazer concurso público para funções que nada tem a ver com as suas.

O que está havendo afinal? Ninguém percebe o caos? Marcel Mauss, que ironicamente era sobrinho de Emile Durkheim, dizia que os "presentes" circulam na sociedade com o intuito de criar laços - acho que ele esqueceu que sua posição já é um presente de Durkheim. De fato, fazemos favores esperando algo em troca - mesmo que Lao Tse peça para que façamos ao contrário. Mas fazemos favores apenas a amigos. Prestem atenção...Eu entenderia dois camaradas de batalha (Chê e Fidel seria um bom exemplo) acobertar o outro pela amizade, porém, o que vemos no congresso, não é pela amizade, é pela simples banalização da dádiva, da troca. Lula não era camarada de Dirceu, e eu pergunto: por que acobertá-lo daquele jeito? A política também é enfim minada pelo pistolão. Lembro que os VJs da MTV eram: Astrid, Cazè, Massari, Edgar, Soninha, e Kid Vinil. Eram pessoas competentes, elas entendiam de música. Massari era um verdadeiro pesquisador! E Kid Vinil nem se fala. Os que não eram bons conhecedores eram rostos bonitos: Edgar e Sabrina. Hoje ligamos a MTV e os VJs nem sabem falar, nem entendem de música, e têm uma beleza comum - alguns nem belos são. O que está acontecendo? Como aqueles VJs foram parar por lá? O brasileiro reclama da corrupção e não percebe que ela é fomentada por uma noção falsa de amizade. Protegemos nossos amigos sim, mas esses, não são aqueles que te deixaram algum dia viajar de graça ou que te fizeram um empréstimo. Amigo é uma coisa mais intensa! Não há razão para proteger os que não merecem serem protegidos. Peço que ao término da leitura - se é que alguém vai ler esse texto - ouçam o novo e fabuloso disco do Mombojó: homem-espuma.

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A Cena Invisível de Recife
Não sei como devem se sentir os músicos das bandas locais de Recife. Talvez, da mesma forma que Sísifo, realizando uma tarefa da inutilidade.


Recentemente saiu uma matéria enorme na Continente sobre Le Bustier En Decadence, Mombojó, Profiterólis, Barbies, e outros nomes da inutilidade musical. O que essas bandas não entendem é que absolutamente ninguém em Recife as escuta. Nunca vi Mombojó tocar em lugar nenhum - a não ser em eventos de cunho altamente institucional, onde o apadrinhamento vale tudo.

A sonoridade de todas elas é péssima. Antes os músicos eram escolhidos em festivais, o sujeito, no mínimo, deveria tocar bem seu instrumento. Hoje não, tudo é indicação. Direção de cinema é indicação, jornalismo é indicação, teatro é indicação, estamos num mundo de predestinados.

O irônico é que por mais que os jornalistas da cena local tentem impulsionar esses nomes incompetentes, nada acontece. Eles insistem em enfiar guela abaixo os vocais terríveis do Mombojó. As letras pueris de quem utiliza o minimalismo para desculpar a incompetência. Mas não adianta, nada acontece.

Perguntem a qualquer recifense: cante um refrão do Mombojó. Não adianta, não pega. Todos os dias sai no jornal alguma notinha sobre esses grupos, mas não tem jeito.

Será que foi preciso esse mesmo esforço para levantar Chico Science? Creio que não. Será que Sísifo teve que empurrar aquela pedra tantas vezes ladeira abaixo para levantar o Chico Science? Será que Lenine foi tão forçado assim?

A cena atual de Recife não é pós-mangue, é invísivel - igual as cidades imaginárias de Ítalo Calvino. Ninguém vê NADA! E não é aquele Nada de Émile Cioran, tampouco o Nada construtivo de Bachelard, ou aquele que preenche o ser de Sartre. É um NADA que fede a lixo e incompetência.

Pelo amor de Deus, arrumem bons vocalistas e bons compositores.





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Arquivo Mary - zine

a melhor banda da cidade
zine

























Arquivo Tiago West pt. 1 - Poesias

Carma

Ele

Bicho mau
Na desrazão
Morre o ninho
Sem pensar

Ela
Ave mãe
Enluta
Chora a dor da natureza
Retorna
Ao voar

O carma sela-se:

Ele
Por tudo o que
A Pássara
Passara
Passará.


***

Queixa

Sempre achei o bom-caráter a coisa mais imprescindível na vida de uma pessoa.
Sempre achei a criatividade a coisa mais interessante numa pessoa.

Sempre achei a afabilidade a coisa mais sedutora numa pessoa.
Sempre achei o sorriso a coisa mais cativante numa pessoa.
Sempre achei o afeto a coisa mais excitante numa pessoa.


Na verdade,
Sempre achei várias coisas,
Menos a pessoa

***

Emoção x Razão


Emoção, razão
A lógica do desfeito
Coração na mão
E cérebro no peito

***

E Tem Mais

Pernambuco bebeu Porto Alegre
E, diante a BAHcia,

urinÔXEmarrão

Fumaça em excesso dá febre
Quer só fuma ErVA

Tem câncer de Adão

FALO do homem-luxúria
Com o pretexto da planta
Disfarçou a ereção

E tem mais...

O Vaticano bebeu a Amazônia
Rezou o pai-nosso

Em tupi-guarani

Bebê índio se alimenta da caça
Se tentam dar PAPA
Prefere dormir


E tem mais...

O "4 de julho"
Come meu banquete

Bebe meu vinho
E na fronteira me larga

Se fosse Getúlio
Soltava um falsete
E dando gritinho
Arrumava uma "varga"

E tem mais...

Na Alemanha

Nem tudo é nazismo
Também não é só paz
Não é bem assim

O Beethoven
Chegando no Rio
Viu indícios de MORAES
E comeu Tom Jobim


E tem mais...

O Balzac reinou lá em Tóquio
Mediu-se com gosto
E gritou: trinta!

Cinderela sentou no Pinóquio
Bem no seu rosto
E gritou: minta!

E tem mais...

O folclore comeu do dinheiro
Passou contra-cheque
Pro Saci-Pererê

Se esconda em um bom cativeiro
Pois, o mundo inteiro
Só quer te comer.

E tem mais...


#: caixa-alta e aspas são do autor (N. do T.)
***

Meigo

Paixão alvoroçada
Ênfase na atração
Não tema

Insista
Siga o coração

Na verdade

A instrução:

Volte do início
A partir do "P"
Guie sua leitura
Impiedosamente

Na vertical
Agora!

***

Vagabundos

Vagabundos, na verdade
Vêm da globalização
Tem malandro da Bolívia
Vadiando em alemão
Bilhar, 'bicho', baralho
Gafieira e coração
Só abraçam
Trabalho
Sendo, o cargo,
de patrão

Bom vadio
Tempo não perde
Com a bela da praça
Pois, bem sabe:
Mulher feia não há
Desde o invento
Da cachaça

Mas o etanol
Ah, o etanol...

Atiça o desejar
Que tara, pira
Compromete o raciocínio

E bem na hora "H"
Ele pára, mira
Mas acerta no períneo

***

Poema Incompleto

Muito amo-te
Ô, minha preta
Muito imenso
É meu amor
Por tu

Mas não cedes
A ______
Imagina
O __

***

Opereta Militar

Ato 1
(Recruta 1) - Tenor
Juro
Ó, mãe gentil
Darei meu brio
A meu país
Juro
De peito nobre
Embora pobre
Lutarei feliz

Juro
Se convocado
Viril soldado
Eu hei de ser
Juro
Que destemido
Serei ferido
Mesmo sem entender

(Oficial Superior) - Barítono-baixo
Recruta
Que sejas fúlgido
Que sejas óbito
Sem hesitação
Óbvio
Que não há pátria
Que queira glória
Só por ambição

Ato 2

(Recruta 2) - Tenor
Chefe
É exultante
Limpar banheiro
Oficial
Obras
Do almirante
Do brigadeiro
Do marechal

Chefe
Joguei alarde
Que sentinela
Não serei, não
Hoje
Sou o covarde
A 'cinderela'
Do batalhão

(Oficial superior) - Barítono-baixo
Poupe-me
Desta falácia
Da perspicácia
De tua rebeldia
Tu
Não terás cavalos
Tanques ou alados
Bem vindos à infantaria

Ato 3 [fim]
(Coro)
Vamos, toda patente
Vamos em frente
Nós, brava gente guerreira
Vamos, raça valente
Vamos em frente
Vamos lutar

Lutemos
Longe de casa
Longe de causa
Vamos honrar a bandeira
Vamos, raça valente
Vamos honrar

Sem temer a labuta
Filhos da luta
Vamos vencer a batalha
Sem temer a labuta
Filhos da luta
Vamos vencer

Lutemos
Longe de casa
Longe de causa
Para ostentar a medalha
Vamos, raça valente
Vamos vencer

***

Espelho

Há tempos
Um vazio
Me consome
Não é o ócio
Inércia
Nem fome

Uma espécie
De vácuo lacrimal
Instalado
Dos pés à minha traquéia
Me lenho!

Todavia
Embora animal
Sou calado
Nem onomatopéia
eu tenho

Sou poeta
Compositor
Homem pacífico
Por vezes,
'atlantico'

Músico
Escritor
Não magnífico
Por vezes,
romântico

Não miro riqueza
Não minto
Não lato
Mas amo meu cão

Ah, bicho justo...

Gostamos das moças
Do riso
Do tato
- Eu e meu violão

Ah, e do busto...

Fui menino
Caule fino
Até saúde, já tive

Mas a ternura
Em mata escura
Ou solo duro, não vive

Conheci o humano
Gente feia
Gente bonita
Sem-vergonhas
Cérebros célebres
Mentes tolas
Caras medonhas

Não por intenção
Fiz-me diferente
Se o mundo, gelo,
Eu, quente
Se tudo boca
Faltava-me dente

Não sei
Ao certo
Se logo parto
Se viro ancião

Mas, sei:
Se morro deserto
É porque
Não quis ser
Multidão

***

I
...
Sou dona de meu nariz?
Claro! Se não, quem será?
Quem vai querer tutelar
Essas narinas "desafiladas"?

Minha mente é mais excitante
Que qualquer busto postiço
Meu peito, agora lactante
Foi beleza pro noviço

Não sou refém da imagem
E juro, sou feliz
Meu corpo não é modelo
Pra compra de carne e quilo

Meu ego não quer massagem
Sou dona do meu nariz
Sou dona do meu cabelo
E mando no meu mamilo

***

II
Não sou mulher de um homem só
Pois, anulo a solidão do meu homem
E quando o mesmo se dispõe
A extirpar minhas angústias
Aí, sim, sou mulher de um homem só...
Só dele.

III
Espia-me com olho recíproco
Pois
Minha vista
Bem pretende
Te engolir

Um! não tema equívoco
Dois:
Vem artista
Me desvender
Ao esculpir

Dou-te meu tronco e cabeça
Meu órgãos
Minha alma
Minha mente
Talvez, assim, eu mereça
Ter-te
Ora calmo
Ora ardente

Me coza
Estou crua
Seja meu, rapaz
Serei sua

IV
Tua boca
- maior mal da minha vida
Tu, minha eterna ferida
Homem cretino que és
Deu-me pernas sem pés
Caí
Chorei a dor do planeta

Porém
Não resisto à idéia
D'outro beijo teu
Ter tua língua
Nela, que tanto
fui feliz
Lambê-la
Mordê-la
Decepá-la
Cortando o mal
Pela raiz

Logo verás
Tua macheza infinita
Virar vil fiapo
Resposta

E saberás:
Sem saliva maldita
Te resumes a trapo
Seu bosta.

***

Imprensa Impressa

Imprensa impressa
Às vezes:
- Deboche
Imprensa, em pressa
Ou viras
Fantoche

Caros amigos, atentem-se
Nesta época de inverdades
Atenção!
É o que resta
Não vale cegar-se, isto é,
não veja
O que não presta

Sorte nossa
Temos, em qualquer continente
Algo superinteressante
Pois quem vive a capricho
Não capricha
Morre irrelevante

Essa é a lei
A lei do mercado
Te preparas:
- Mercado vilão
Mas, antes de tudo,
relembre o ditado:
'Quem vê caras,
Não vê coração'

#: Grifo do autor.

***

continua




Arquivo Cleiton Shelley pt. 3 - Fase "Shelley", de fato

Nessa parte do dossiê postaremos as produções mais recentes do jornalista recifense, que deixou o Brito pra lá e auto-renomeou-se de Shelley. O post vai incluir dois textos selecionados de Cleiton como colaborador do Meu JC e um de seu novo blog.

O recifearchives tem o prazer de postar antes dos textos, integralmente, uma das pérolas de todo o nosso arquivo: perguntado por uma amiga do site sobre os motivos da troca do sobrenome, Cleiton respondeu com um scrap bastante elucidativo:

"Então. "Shelley" é o pseudônimo de "Santos", tirado de "Shelley Winters", nome artístico de Shirley Schrift (East St. Louis, 18 de agosto de 1920 — Beverly Hills, 14 de janeiro de 2006), uma atriz estado-unidense. Tinha reputação de ser uma mulher provocativa, de falar sempre o que pensava e de ter uma opinião política sempre muito forte. "Shelley" foi tirado também de "Shelley Duvall", um dos atores que dramatizou seis filmes que eu pago o maior pau, e eles são: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Woody Allen), Nashville (Robert Altman), O Iluminado (Stanley Kubrick), Jogos e Trapaças - Quando os Homens São Homens (Robert Altman), Três Mulheres (Robert Altman) e Renegados Até a Última Rajada (Robert Altman). Shelley, entretanto, agora passa a ser o meu sobrenome, aonde me identifico sempre que publico alguma coisa, ou simplesmente, sempre que exponho o meu trabalho como jornalista. É isso!"

Cleiton Brito Shelley, 13/04/08

1. 04/05/08 - "Sobre Liverpool ter sido eleita a Capital Européia da Cultura" texto aqui

Antes de dizer que Liverpool é uma cidade britânica famosíssima por ter sido o berço musical dos Beatles, apresso-me em dizer que ela tem muito mais a expor do que isto. Basta observar sua beleza arquitetônica, sua arte e cultura para saber que o que estou dizendo tem respaldo. Sim, hoje Liverpool é a Capital Européia da Cultura.
Claro que quando se fala em liverpool, a primeira coisa que me surge à cabeça é o quarteto que cativou o mundo inteiro no decorrer dos anos 1960. Não há contradições, a superioridade internacional da cidade colocou os Beatles em um patamar grandioso na história mundial, essescialmente naquela época.
É tudo fruto da sua localização favorável e ao porto: Liverpool tem presenciado de perto a história da Europa, uma vez que a sua mina de ouro cultural é parte das trocas comerciais e sociais que nasceram por lá. Esta mina de ouro a qual me refiro é vista por ambos os lados, começa pela arquitetura e acaba no dia a dia da população.
Acredito que esse foi o principal motivo para que Liverpool, não Londres, Manchester ou Oxford, fosse tachada de "Capital Européia da Cultura". É o que podemos chamar de reconhecimento a um local que ressalta a fortuna, a diversidade e os caracteres precisos que fazem refletir a UE (União Européia).

P.S. A escolha de Liverpool levou milhares de pessoas ao George's Hall.

2. 07/04/08 - Jules et Jim: da série Filmes densos, que ajudam a pensar texto aqui


Esta coluna faz parte de uma série de filmes que fizeram ou ainda vão fazer história. Quem é cinéfilo (ou não) com certeza já viu ou vai ver algum deles. Quem sabe numa sessão especial do Cinema da Fundação ou freqüentando a Classic Vídeo assiduamente, como este repórter que assina esta matéria.

Talvez você tenha ficado em casa num domingo à noite, sentado em sua poltrona amiga, na frente da TV, para conferir o Cine Band Clássicos, ou tenha televisão a cabo. Talvez você simplesmente assista às grandes produções do cinema hollywoodiano, que encontra facilmente na locadora mais próxima de sua casa ou num Multiplex da vida.

Enfim, na série "Filmes densos, que ajudam a pensar", você terá razão e sensibilidade expostas através da sétima arte - e de fato o primeiro filme que eu vou abordar será um que tem muita relevância na minha trajetória e na de muita gente, e esse não é outro senão Jules et Jim, de François Truffaut, 1962. Afinal, todo cinéfilo tem um clássico em sua vida, o meu é esse.

Assisti a Jules et Jim pela primeira vez quando tinha oito anos de idade, não compreendi a história, mas revi muitas vezes ao longo da vida. Amo tudo no filme, inclusive a paixão de Truffaut pela literatura, que o seu infinito amor pelo cinema supera. Desse amor, quero dizer, desse duplo amor, surgiu uma maneira muito peculiar de se fazer cinema, o que deu reconhecimento e respeito ao jovem autor francês. E entre todas as referências de "cinelivros" criados por Truffaut, Jules et Jim é sem dúvida o maior exemplo de todos.

O filme não apenas explora um preeminente menage a trois no início daquela época, como é, entretanto, um filme que fala de dúvidas em torno da existência de cada um, em um momento - o afamado pós-guerra e a Belle Époque - em que essa temática estava presente até nos jantares e cafés. Jules et Jim não é somente um filme. É também um livro. E Truffaut seguiu-o à risca. A narração em off - desde o primeiro ao último instante de película - prova que Truffaut foi o cineasta mais fiel à literatura enquanto fez cinema. Detalhe: é neste rolo onde cinema e literatura se cruzam que o filme flui lindamente, da forma mais cativante e natural possível.

E quando criança, fiquei fascinado com esse rolo. Tudo em nome do amor e da amizade. É isso! O filme é sobre as duas coisas, ou melhor, mostra como o amor e a amizade deveriam ser. Mas o ponto essencial de Jules et Jim é essa dinâmica de casar duas linguagens que, mesmo sendo opostas, sempre viveram juntas desde que o cinema de ficção nasceu, na primeira década do século XX. Sem incomodar, sem se ofuscar com ligações exarcebadas com a literatura, e, apesar dos pesares, sem nos deixar esquecermos de que o que estamos a ver é na realidade um filme. Truffaut realizou um trabalho impecável, honesto. Em outras palavras, com rasgos de imaginação, daqueles que se assemelham demais com a realidade.

Outro ponto a destacar é a trilha sonora composta por George Deleure, um dos compositores de renome na história do cinema e alguém que cabe ser citado na lista dos autores da Nouvelle Vague. A pauta sonora enriquece o dramatismo da narrativa em off, porém, trabalha ainda mais - ou pelo menos ajuda a trabalhar - o universo cinematográfico de Jules et Jim. O sucesso monstruoso de Jeanne Moreau, Henri Serre e Oskar Werner, um dos atores mais requisitados do cinema europeu, não é um mero sucesso de atores, produto de um filme, mas sem discussões desnecessárias, uma mostra viva e de um alto calibre literário das personagens do livro que deu origem ao filme.

Jules et Jim veio para se diferenciar de Les Quatrecents Coups e Tirez sur Le Pianist, o que signifaca dizer que ele é mais humano, mais chocante, mais pensante e, acima de tudo, revolucionário. É o filme que veio para provar que o cinema realmente nunca mais seria o mesmo. Posso dizer que é a resposta de Truffaut a Godard e ao seu A Bout de Soufle, assim como Smile foi a resposta dos Beach Boys ao Sargent Peppers dos Beatles. Ok, ficar comparando a música e o cinema é bem perigoso, mas neste caso é de bom tamanho, já que, na sede de achar novas linguagens, novos rumos, novas fontes para beber, os autores de irreverência podem visar à mesma mina de ouro por diferentes caminhos.

Truffaut escolheu ali qual estrada queria seguir. Um caminho mais "classudo", mais ousado, mas sempre amarrado ao cinema de classe que amou com afinco, até o final de sua ilustre vida.

3. 29/04/08 - Vanilla Sky: da série Filmes densos, que ajudam a pensar texto aqui

Em meados de 1997, assisti ao filme espanhol Abre los Ojos, de Alejandro Amenábar. Lembro que quando saí do cinema não conseguia parar de pensar nele. Era como uma música folk: ora ficção, ora poesia. Quatro anos mais tarde, no inverno de 2001 para ser mais exato, fui ao cinema ver um outro filme que estaria estreando em todo território nacional, sim, um que mexeria demais comigo: Vanilla Sky, um remake de Abre los Ojos, feito pelo cineasta Cameron Crowe. Saí do cinema muito deslumbrado com tudo o que vira.

A cena inicial era marcante: a câmera sobrevoando a cidade de Nova Iorque, em uma espécie de plano aéreo. Tudo bem! Todo mundo filma planos gigantes e romantizam NY, mas John Tool, o diretor de fotografia, e Cameron Crowe, queriam passar a sensação de serem entidades sobrenaturais ou imaginárias pousando no planeta Terra. É isso, a história começa assim, com a câmera aproximando-se do Dakota, o lugar perfeito para descrever o mundo de David Aames, a personagem de Tom Cruise. E a primeira coisa que escutamos antes de Everything In Its Right Place, do Radiohead, é Sofia Serrano, a personagem de Penélope Cruz, sussurrar: "abre los ojos" - o que faz jus ao filme original, de Alejandro Amenábar.

Abre los Ojos e Vanilla Sky flertam bem de perto, passeiam de mãos dadas. Só que, ao contrário de Alejandro, Cameron quis criar um filme cheio de marcos e pistas, como a capa de Sargent Peppers dos Beatles. A cena com Andrey Hepburn em Sabrina, por exemplo, dá um toque agradável e belo ao filme. Dá a entender que foi um sonho de amor que David Aames estava tentando viver naquele instante. Observamos um pôster do álbum The Freewheelin' Bob Dylan e, quando menos esperamos, vemos também o mundo de David. O cabelo grisalho dele simboliza a vontade de não morrer jamais, parar ali, viver eternamente.

Grande parte do elenco fez Almost Famous (2000, também de Cameron Crowe). Cameron e John fizeram um filme atrás do outro e não poderiam ser mais opostos. A imagem era a mina da vez, essencialmente no começo quando a equipe evacuou a Times Square em uma bela manhã de novembro, deixando o espectador pensar que as personagens estavão no outono, quase inverno. Vanilla Sky retrata o pesadelo de alguém que tenta retomar o tempo perdido de uma só vez. E um dos pontos mais importantes do filme foi a relação entre Kurt Russel e Tom, dois atores que sempre almejaram contracenar. E conseguiram. Na primeira cena em que os dois contracenam, To Kill a Mockingbird (Robert Mulligan, 1962) passa na TV. É a primeira suspeita de que entramos no pensamento de uma pessoa e que tudo é válido.

[...]

É lindo ver Penélope abraçando Tom de uma maneira que ninguém jamais abraçou o namorado. Aquilo, para mim e acredito que bem mais para o diretor, é amor. É o tipo de coisa que não esquecemos depois de transarmos. Isso e o que falamos. Não esquecemos dos detalhes e da forma que ela abraça. É amizade. Amizade e amor.

[...]

A cultura pop nos ensina a viver.

[...]

Vanilla Sky não é mais do mesmo. Você precisa se prender ao filme. Mas é, sobretudo, um filme que temos que deixar largado por aí. É uma lenda. Um meio termo. Um pesadelo romântico. Um sonho cheio de lucidez. Uma música folk bem psicodélica. Um filme para se discutir numa mesa de bar ou num café. Vanilla Sky cativa as pessoas. É só marcar um encontro, e ele não te dará um bolo.

Arquivo Cleiton Shelley pt. 2 - Coluna Pop Out!

1. 10/05/2007 - "Antes que o mundo exploda" http://www.reciferock.com.br/2007/05/10/pop-out-antes-que-o-mundo-exploda/
ANTES QUE O MUNDO EXPLODA
“You hate that burning feeling

But you love that feeling you hate
You wake! Are you dying or killing?
You will always feel the same”
Mellotrons, em “Tongue”

Direto de Barcelona, Espanha
Salve o mundo, salve a não-tão-nova cena musical pernambucana e, antes que o mundo exploda, resolvi começar essa coluna já dizendo a que vim: muito rock. Depois de noites mal dormidas esperando o meu visto de trabalho sair, aqui estou: em Barcelona. Longe dos rios, das pontes e dos overdrives, mas muito bem, obrigado. É isso aí, a partir de agora você vai ficar a par de tudo o que acontece por aqui na capital da Catalunha. Ok, ok. O que isso tem a ver com a não-tão-nova cena musical pernambucana? Bem, esse colunista aqui… É recifense e embora estando longe ele quer manter o contato com esse cenário (paradão!) que ele gosta muito. Já que ultrapassei fronteiras e tive que deixar a cidade por um tempo. Vou deixar de blá blá blá e apresentar a coluna que (até agora não sei por que) resolvi chamar de Pop Out.
Só para você ter uma idéia do que será a tal Pop Out, e o que afinal eu vou transmitir daqui, vai uma notícia:
PRIMAVERA SOUND 2007

De 31 de Maio a 2 de Junho, em Barcelona, no Parc del Fòrum, acontece o Primavera Sound Festival 2007. Como já foi dito, o festival acontece no Parc del Fórum(para quê repetir?), que foi construído para o Fórum Universal das Culturas em 2004, com uma arquitectónica bastante atual. Localizado no Mar Mediterrâneo, o recinto possui as condições perfeitas para suportar grandes eventos deste calibre: três palcos, com um especial destaque para o anfiteatro ao ar livre. Veja só! Esta é uma zona privilegiada porque existe uma boa rede de meios de transporte para a zona centro. Não posso perder! Estou aqui roendo as unhas para que esse dia chegue rapidamente. Sem mais, dá uma olhada no Line Up:
31/05: The Smashing Pumpkins, The White Stripes, Slint performing Spiderland, Melvins performing Houdini, Dirty Three performing Ocean Songs, Explosions In The Sky, Herman Düne, Fennesz & Mike Patton, Comets On Fire performing Blue Cathedral, Justice, Girl Talk, Fujiya & Miyagi, Bola, Ghouls´n´Ghosts, Parenthetical Girls, Alexander Tucker, Veracruz, Za, The Light Brigade, Anticonceptivas
01/06: The Fall, Maxïmo Park, Los Planetas, Spiritualized acoustic mainlines, Modest Mouse, Built To Spill, Billy Bragg, Blonde Redhead, Band Of Horses, Low, The Rakes, Barry Adamson, Girls Against Boys, Beirut, Portastatic, Sr. Chinarro, Black Lips, Hot Chip, Black Mountain, David Thomas Broughton, Mus, Jay Reatard, Brightblack Morning Light, Death Vessel, Half Foot Outside, Ginferno, X-Wife, Plastic D´Amour, Chromeo, Errors, Evripidis And His Tragedies, One-Two, People Are Germs, AA Tigre, How Dare You!Tenda Eletrônica: Diplo, Umek, Luke Slater, Kid Koala, Technasia, Bonde Do Role, Dj Yoda, Reinhard Voigt, Spank Rock, Toktok
02/06: Wilco, Sonic Youth performing Daydream Nation, Patti Smith, The Good The, Bad & The Queen, Buzzcocks, Jonathan Richman, Isis, Robyn Hitchcock And, The Venus 3, The Long Blondes, Architecture In Helsinki, Pelican, Múm, Shannon Wright, Ted Leo & The Pharmacists, Klaxons, The Durutti Column, Standstill, The Apples In Stereo, Battles, Lisabö, Kimya Dawson, Matt Elliott & his orchestra, Grupo De Expertos Solynieve, Grizzly Bear, Oakley Hall, Shitdisco, Thee Earls, Ovni, Raülmoya y el Trío Miniña, Koacha, Peluze, 6PM, Man Like Me, Le PiancTenda eletrônica: Hell, Erol Alkan, Nathan Fake, Ivan Smagghe, Luomo, Play Paul, Dominik Eulberg, David Carretta, Oliver Huntemann, Mijk Van Dijk
03/06: Festa de despedida: Of Montreal, Erol Alkan, The Orchids, Malajube, Apostle Of Hustle, Apse, Southern Arts Society
Pronto. já falei demais do Primavera Sound Festival 2007 nessa coluna. Mas ainda acho que está faltando alguma coisa… já sei:


RRRRRROCK E MAIS RRRROCK

Alguém aí já ouviu “Pretending” do Sweet Fanny Adams? É uma canção e tanto para embalar uma noite, não? Ouvindo não dá pra pensar em outra coisa a não ser em rrrock e sexo. Sweet Fanny Adams é uma banda que frequentou (com certeza!) a escolinha The Stooges, e que poderia ser comparada (hoje em dia, é óbvio) com os jovens do Arctic Monkeys que também frequentaram essas aulas. Os jovens do Sweet Fanny Adams, entretanto, mereciam um pouco do hype que o quarteto inglês tem/teve. Mas como em Recife não existe isso, misture o fraseado das guitarras, o compasso instigante da bateria, o baixo ganchudo, e a voz anasalada (à la Iggy Pop, claro!) com o alto nível de alcohol e dance ao som, de “Pretending”, até cansar. Como diz o meu chapa Lúcio Ribeiro: este planeta precisa de festa. E colocando palavras na boca do moço: este planeta precisa de Sweet Fanny Adams!

obs: Faço questão de colar aqui alguns comentários desse post

enio disse,
em http://www.reciferock.com.br/2007/05/10/pop-out-antes-que-o-mundo-exploda/#comment-3446
virou a casaca, Cleyton? no teu antigo blog (que está fora do ar, por sinal) tu só não chamou o SFA de bonito.
menino volúvel, bem dizer.


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fernando disse,
em http://www.reciferock.com.br/2007/05/10/pop-out-antes-que-o-mundo-exploda/#comment-3501
acho que ênio quiz dizer isso aqui:
o Sweet Fanny Adams trouxe para o palco do Casarão músicas sem samplers ou novidades eletrônicas - na verdade, esses garotos fazem praticamente a mesma coisa que o Moptop fazia antes de abandonar o idioma inglês, ou seja, com duas guitarras agoniadas e vocal anasalado, putz! É muito chato dizer isso, mas parecia uma espécie de “Arctic Monkeys wannabe” - a banda não deu um sinal de inovação - além de tudo são “imaturos”, para usar uma expressão politicamente correta, com idade suficiente para serem irmãos mais novos de seus jovens fãs. Fãs que aprovaram o show, cantarolaram alguns covers, aplaudiram e, claro, não deixaram de soltar seus gritos uivantes.: wohoo!!



2. 17/05/07 - "Top 10" http://www.reciferock.com.br/2007/05/17/pop-out-eu-ando-ouvindo-voce/

TOP 10
“I need the good and old times

And it was you who came around”
Vamoz!, em “Target of Rock”

Olá! Hoje é dia de mais uma coluna gringa. Hoje é dia de Pop Out. Deixa eu me despreguiçar, arregaçar as mangas e apontar o lápis. Prontinho.

Enquanto bombaram as notícias “Madonna vai a África fazer compras”, “top Kate Moss assina (por US$ 6 milhões!!) coleção para rede de lojas inglesas Topshop e cai doidona nas baladas”, ou “Patricinha Paris Hilton dá um rolê no show do CSS”, eu fiquei encarregado de assumir uma missão muito ingrata: escolher dez CDs. É quase impossível para alguém que gosta mesmo de música dizer o que gosta mais. E sem querer começar a coluna com uma lista exaustiva de nomes de bandas recifenses, vou assim, limitar-me à resenhar alguns discos, por ordem muitas vezes não cronológica, de diversos grupos que de alguma maneira contribuem para a evolução e dignificação do cenário musical do Recife. Eu, de fato, sou daqueles que sempre junta as palavras “my” e “space” só para ver que bicho vai dá. E também compro e recebo alguns CDs. Ah, que saudade incrível dos meus seis/sete anos de idade, tempo em que eu só fazia brincar com minha coleção de Playmobil vestido com uma roupa de “Homem-Aranha” improvisada. Até senti falta da Nave Espacial da Xuxa. Nada de listas, tarefas… Bem, vou deixar de moleza e começar logo.

Vamoz!
Damned Rock ‘n’ Roll (Coquetel Molotov Fire Baby Records Monstro Discos)
Já vemos que não é nenhuma novidade falar sobre esse segundo CD da banda Vamoz!, mas assim como no primeiro To The Gig On The Road (2003), podemos ligar tudo às influências legais que o grupo têm do Pixies, Wilco, Teenage Fanclub e todas essas bandas de indie rrrock e country alternativo que lhe vem a cabeça. É um disco que foi lançado por três selos e, além disso, também é um DVD (o qual não vou fazer um comentário sequer). Damned Rock ‘n’ Roll é um CD bem produzido, com dedos cirúrgicos em cada música. Neste disco você encontra um fator que eles vieram mantendo desde aqueles tempos em que explicavam que o nome da banda é um convite ao rock: a necessidade de fazer um som sincero.


Os Insites
Os Insites (Independente)
Do Recife destaco também Os Insites: um grupo de quatro amigos apaixonados pelo rock ‘n’ roll dos anos 60. Munidos de todas as parafernálias sonoras e não sonoras que remetem ao espírito vibrante daquela época, Os Insites, liderados por André Conserva (guitarra e voz), recentemente “lançaram” um CD-R. Com muito esforço e dedicação, o disco foi produzido nos estúdios Âncora e Cardozo Records e, ainda digo mais, foi masterizado por Neilton da Devotos. A primeira fatia do bolo vai para a boa faixa de abertura “Expandindo”. A segunda fica (claro, o CD só tem essas duas faixas!) para “Vá em frente, pire à esquerda” que lembra bastante os anos dourados. A banda é única em descarregar riffs e brincar aos berros com citações em clima retrô. Também, pudera: Os Insites revisam o passado!


The Dead Superstars
Orange Girls In The Blue City (Bazuka Discos)
Segundo as más línguas (aquelas que escorrem muito veneno!), eles são uma espécie de “Sonic Youth Wannabe”, mas está na cara que as influências da banda partem do rock dos anos 90. São de Recife, mas cantam em inglês (qual é o problema?), e de vez em quando fazem parceria com outro grupo que também não canta na língua pátria: o Sweet Fanny Adams. Duas guitarras fuzzys e sólidas arrasando com os seus ouvidos, e um baixo simples marcando uma bateria propícia. No show você pode olhar do lado e vê um magro empolgado usando óculos de grau e com os cabelos encaracolados. Caso olhar do outro vê uma indiezinha nipônica. Adiante você vai encarar um “zulu” grandalhão e modernizado que parece ter saído de um desenho do cartunista Jamie Hewlett, e olhando para frente vai vê um carinha (que adora uma camiseta quadriculada), cantando de olhos bem fechados como se fosse o Black Francis, e já tão concentrado tocando o seu instrumento ele não consegue se mexer tanto. The Dead Superstars é partidário do shoegazer, o mesmo tipo de som que marcou (e ainda marca) a primeira fase do Mellotrons e que faz My Blood Valentine e Dinossauro Jr. não parar de ser cool. Não importa o que dizem: Recife precisa deles.


Rádio de Outono
Rádio de Outono (Coquetel Molotov)
Quem ainda não ouviu o primeiro EP da Rádio de Outono levanta a mão! Todo mundo ouviu, não é? Mas enquanto o próximo não vem este aqui vai continuar na minha prateleira. Comprei o disco na festa de lançamento em 2006 por causa do
Coquetel Molotov. Quase tudo que o Coquetel lança eu costumo verificar (o pessoal lá tem bom gosto!), achei que não fosse gamar neste “EPzinho”, mas ele é demais e Rdo é um ótimo exemplo de como uma banda pop sofisticada deveria ser: estilosa e retrô.

Monodecks
Reverbera na Caverna (Independente)
Esse single foi “lançado” numa tiragem super limitada pela própria banda. O disquinho não tem capa, ele vem protegido por um papel branco, e é sem dúvida uma produção promocional, ou seja, Reverbera na Caverna foi distribuido gratuitamente para alguns sortudos (eu, inclusive!) durante o Porto Musical, evento que antecede o Carnaval da cidade. Eu poderia até tentar citar algumas influências do Monodecks para lhe instigar a ouvir esse disco, mas não sei se vai adiantar. Faça o seguinte: você curte Brian Eno, Syd Barret e Slint? Escute o CD. Gosta de Sun Ra e Walter Franco? Escute mais ainda. Assimila tudo que é experimental ao gênero post-rock? Escute… Agora.


Amps & Lina
Enfim (Independente)
Enfim. Eu lembro que ouvi este disco por causa da vocalista Luciana Medeiros (um doce de pessoa!). Cada canção que entrava era uma tijolada na minha cabeça, pois eu não sabia se amava ou odiava. De um lado as influências bacanas que eles têm do Arcade Fire, Breeders , Structures, Cat Power. Do outro a qualidade do EP que não saiu das melhores. Tomara que o Amps & Lina, a banda das antigas (como diria Rogê de Renor!), lance um novo trabalho logo e que faça dele um produto pop rock daqueles bem produzidão.


Mula Manca & a Fabulosa Figura
Amor e Pastel (Independente)
O título do CD é um tanto aliciador: refere-se aos contos amorosos e histórias do dia - a - dia, que terminam esterilizadas nos jornais diários e revistas de fofoca. Mas não confunda… Esse disco do Mula Manca & a Fabulosa Figura não é um pastelão de piegas. Tanto os arranjos como melodias e letras, denotam um resultado de altíssimo grau de qualidade, beleza, etc. Amor e Pastel é um disco para ser apreciado com cautela. Essa foi a primeira impressão que eu tive quando me deparei com este álbum. Aqui, além do nome, o Mula Manca assassina o ar quixotesco e acata a novela romântica e, o que é melhor, sem receio.


Asteróide B-612
Rua da Aurora Boreal (Independente)
O que eu queria mesmo era andar por alguma rua desconhecida de Barcelona, mas não há lugares assim por aqui. É melhor ir direto ao ponto, isto é, Recife (PE). Então, vou começar a andar por uma rua bastante movimentada, Rua da Aurora Boreal. Não é uma rua glamourosa frequentada por superstars, e sim o novo EP do Asteróide B - 612 (que acabou de ser lançado). Ele fica logo depois de Imoral, Cara de Pau e Sem Vergonha – é só seguir a via fodida e diminuir um pouco a velocidade para não passar direto. É uma área mais calma do que a primeira, mas não pense que é decente, moral ou dentro dos padrões. Bebida e sexo ainda são os pensamentos que lhe surgem ao ouvir as faixas cantadas aqui nas redondezas por Zeca Viana (guitarra e voz). Quando eu passei por “Laser Bill” senti de longe o cheiro de cachaça. Quando eu medi pelos riffs rrrock desta canção, de Rua da Aurora Boreal saquei que o bom do Asteróide B - 612 é que a banda está mais próxima da tosqueira de outrora como o udi-grudi que da zoeira contemporânea do indie rock.


Erasto Vasconcelos
Jornal da Palmeira (Candeeiro)
Senhor de talento, bom coração e que denota espírito é o tal de Erasto Vasconcelos. Com uma experiência medonha, mas nem um pouco angustiado, ele sempre usufruiu da admiração dos músicos de sua e de nossa época. Entretanto, somente nessa década, quando perto dos 60 anos de idade lhe veio o reconhecimento. Jornal da Palmeira é o seu disco de estréia, lançado em meados de 2005. Por que ouvir? Este CD não apenas revela um homem de 59 anos, mas um mestre sem tamanho, que enfim teve o seu trabalho musical distribuído de forma decente pelo o mundo. E já que eu não achei nenhuma canção do homem na net… Vou terminar dizendo que a faixa “O Baile (Betinha)” é perfeita para dançar.


Diversitrônica
Diversitrônica (Independente)
Não conhecia Diversitrônica até pouco tempo atrás. Quando saquei pela primeira vez achei uma frialdade mecânica, mas festiva. Agora torço por eles, é uma grande banda e, acima de tudo, bastante divertida. Esse EP homônimo é bom por que tem Kraftwerk em sua essência, e isso fica cristalino em cada faixa (Jamming Session, Elefante E Castelo, Pastilhas Elasticas, Tarde). Nada de Atari, MSX, Sega, Nintendo ou Jaspion. Aqui, tudo vem do Kraftwerk: é a Mãe Germânia substituindo a Mãe África. Está mais do que no ponto. Diversitrônica tem de levar sua inquietude sonora e seu minimalismo para além das fronteiras de Pernambuco. E tenho dito.

***
PRIMAVERA SOUND FESTIVAL 2007
Nessa época do ano em Barcelona os dias são frios (daqueles que lhe fazem tremer) e ensolarados também. As folhas das árvores caem pelas calçadas, e todo cachecol é pouco quando se quer sair de casa. Você aprecia as ruas e as lindas cafeterias, anda de bicicleta e aguarda ansiosamente o Primavera Sound Festival, evento que se realiza aqui em Barcelona, durante três dias no Parc del Fòrum. Como sempre, o Primavera Sound mostrará o melhor da música internacional:
Sonic Youth, The White Stripes, Mike Patton, Patti Smith e os renascidos Smashing Pumpkins serão os grandes ganchos para esta edição (e eu vou está lá, papai!). Mas, antes do festival, eu tenho uma série de concertos “pré” para assistir. Na verdade, são três e eu nem sei se vou para todos. Entretanto, fico pensando: seria bom que os festivais daí de Recife também tivessem um aquecimento (não global, certo?) do gênero. Por aqui (além das futuras coqueluches!), vai rolar, no dia 28, às 21:00h, show de Nueva Vulcano (esses catalães têm já dois álbuns editados – Principal Primera e Juego Entropico, intercalados por dois EPs intitulados Sobremesa e Sagrada Familia, ambos de 2004), Estrategia Lo Capto! (trio que acata as grandes tradições do underground valenciano), e Lavodrama (suas canções passeiam por um lugar que te faz lembrar do Foo Fighters ou Kerosene 454). Já no dia 29 tem Centro-Matic (tecladinho enfeitado do Texas), The Sadies (filhotes de Neil Young) e, por último, no dia 30 (um dia antes do festival, mamãe!), teremos At Swim Two Birds (o som é bom, e o nome corresponde a um livro do escritor irlandês Flann O’Brien), Oslø Telescopic (banda com influências de rock, hip-hop passando pela disco-music) Gnac (as músicas são instrumentais, com instrumentos tão variados como piano, xilofone, guitarra, orgão e outros muitas vezes indecifráveis). Parece até Carnaval. É muita festa, baby! Vou até preparar os confetes. Blah!
***
ROCK COM CARA DE LEGUMES, MAS BEM CARNAL
Recentemente, a nova banda do ícone do punk Ian MacKaye,
The Evens, formada pelo mesmo e sua esposa Amy Farina passou pelo Recife, exibindo suas músicas de igual para igual mesmo tocando (num PUB com direito a clone de chopp e tudo mais!) instrumentos opostos e bradando algo do tipo “silêncio, seus merdas! Nos deixem tocar (como se fosse um João Gilberto Straight Edge)!” para uma platéia que bebe e fala demasiadamente. Depois desse episódio… A canção “Eventually” do excelente Get Evens (Dischord), passou a circular no meu aparelho de som e - ops! - no meu iPod. O diálogo guitarra/bateria em compassos diferentes, o refrão forte e a pegada hard-folk dessa música me lembra muito os primeiros álbuns de PJ Harvey, Minutemen e, óbvio, Minor Threat e Fugazi. Não preciso dizer mais nada. Diabolus in musica!
Um beijo para Mariana Fontes e isso é tudo

Tchau
Por Cleyton Brito



3. 24/05/07 - "Mapeando a Capital da Catalunha" http://www.reciferock.com.br/2007/05/24/pop-out-mapeando-a-capital-da-catalunha/

OBSERVAÇÃO! não vamos transcrever o texto "Mapeando a capital da Catalunha", pois achamos muito chato e grande. Também inclui uma entrevista interminável e MAIS COMENTÁRIOS SOBRE O PRIMAVERA SOUND FESTIVAL.

***

Após essas três publicações no Recife Rock (e vários comentários, como vocês poderão ver clicando nos links das obras), Cleiton (ainda Brito) deixou seu cargo de colunista do site.





Arquivo Cleiton Shelley pt. 1


Nome: Cleiton Brito/Shelley
Idade: 24

Cleiton por Cleiton (http://meujc.uol.com.br/materiaColaborador.php?codColaborador=91425 / http://www.myspace.com/cleitonshelley)

Pernambucano, pairando desde 1991, tanto em Recife (PE) como em São Paulo (SP), é jornalista, produtor e blogueiro profissional. Desde seus 11 anos, é apaixonado por cinema e música. Desde 2006 divide o seu tempo entre a Espanha e o Brasil. E foi na cidade de Barcelona que despontou sua carreira. Direto de lá, Cleiton Shelley assumiu a coluna Popout no site do Recife Rock, mas antes disso, foi colaborador do site e revista Coquetel Molotov. Decidido então expandir o seu trabalho como crítico de música e cinema, começou a escrever também no site Abacaxi Atômico, no Portal Rock Press e Paradoxo. Atualmente, Cleiton tambem é repórter do Caderno Wiki do JC Online, onde escreve sobre rock e cultura pop em geral. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Brazilian, born in Pernambuco, but since 1991, both living in Recife (PE) and in Sao Paulo (Brazil), is journalist, producer and professional blogger. Since its 11 years, is in love with movies and music. Since 2006 divides his time between Spain and Brazil. And it was in the city of Barcelona which gave a jump in his career. Direct from there, Cleiton Shelley took over the column Popout the site of Recife Rock, but before that, he was assistant site and magazine Coquetel Molotov. Decided then expand his work as music critic and film, also began to write on the site Pineapple Atomic, the Gateway Rock Press and Paradoxo. Currently, Cleiton is also reporter of the JC Notebook Wiki Online, where he writes about rock and pop culture in general.